sábado, 30 de maio de 2009

IMPERIAL DESAFIA SEUS ADVERSÁRIOS



Vídeo raríssimo da TV Tupi em 1968 mostra Carlos Imperial desafiando seus concorrentes do concurso de fantasias do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Saiba como terminou este concurso, além de muitas outras histórias do "rei da pilantragem", lendo "Dez! Nota dez! Eu sou Carlos Imperial".

sexta-feira, 15 de maio de 2009

TEXTO INÉDITO DO DIRETOR PAULO AFONSO GRISOLLI SOBRE CARLOS IMPERIAL


Dentre as várias pessoas com quem o escritor Denilson Monteiro entrou em contato em busca de informações para a biografia de Carlos Imperial estava o diretor Paulo Afonso Grisolli. Morando em Portugal, Grisolli concedeu ao escritor o depoimento abaixo, onde fala de "Por Mares Nunca Dantes Navegadas", peça dirigida por ele em 1970, encenada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e que tinha Imperial no papel do poeta Bocage.


Meu caro Denilson:

Por Mares Nunca Dantes Navegados foi um super-espetáculo, montado em 1972 por iniciativa do Orlando Miranda (proprietário do Teatro Princesa Isabel e; à época, amigo pessoal do Imperial) e destinado a platéias estudantis. Estreou, para uma curta temporada, no Teatro Muncipal do Rio de Janeiro, com algumas salas abarrotadas de ruidosos e desatentos estudantes secundaristas pouco motivados para a experiência teatral. Apesar disso, foi um sucesso. Camões era o Paulo César Pereio, numa interpretação memorável. O cenário era de Joel de Carvalho - extraordinariamnte bonito e funcional. A iluminação foi assinada por Gianni Ratto. Klauss Vianna respondeu pela preparação corporal do elenco (muito jovem e inexperiente) e pela coreografia, muito surpreendente. E a música era toda original, especialmente composta por Sidney Miller, músico excelente injustamente desconhecido hoje no Brasil. A música era de fato muito boa.
O espetáculo apresentava um Camões irreverente, aventureiro e majestoso. E num de seus momentos anacrônicos introduzia a figura de Bocage, a evocar Camões. Era uma participação pequena porém marcante. Para a qual precisávamos encontrar um ator igualmente marcante. A sua participação era pouco mais do que entrar e cantar um soneto musicado pelo Sidney e que, nos ensaios, era exuberantemente cantado por um rapaz do grupo muiical, cujo nome injustamente não me vem agora à memória.
Foi o Orlando Miranda quem me sugeriu o nome do Imperial: «Afinal, ele é mesmo uma figura irreverente como o Bocage» - disse-me. Resisti inicialmente. Hesitei depois. E, afinal, ainda que sem acreditar que a experiência desse certo, terminei por concordar e convocamos o Imperial. Ele próprio também hesitou. Afinal, nunca tinha feito teatro e , além de tudo, tratava-se de teatro sério. E no Municipal!
Mas, ultrapassada a hesitação, enfrentou a situação como acho que sempre tratou de tudo: com desdém, de forma debochada e sem disciplina. Isso era ele.
Quando o Sidney tentou ensinar-lhe a canção, descobriu que o Imperial - homem de música - não sabia cantar. Aprendeu a melodia a duras penas. Desafinava como um louco. Para desespero do tal rapaz do conjunto musical que cantava lindamente e que tinha como sonho fazer o Bocage no espetáculo.
Mas aguentamos o tranco. O espetáculo estreou com o Imperial no Bocage. Dada a pequena participação, ele só apareceu mesmo au grand complet no ensaio geral. Tínhamos convidados muitas pessoas e o Imperial, ao entrar em cena, sentindo presença de gente na platéia, não teve dúvidas: parou e acenou para o público. Para meu desespero, que não contava com aquela.

Gastei um tempo enorme para convencer o Imperial de que ele não devia fazer aquela saudação ao público, a fim de manter a sua dimensão teatral. Ele achava que devia fazê-la, teimou comigo, mas finalmente aceitou com disciplina a minha orientação.
Hoje, passado tanto tempo, a pensar num espetáculo tão bonito e significativo, acho que quem tinha razão era ele e não eu. Moderno, vanguardista, ousado, o espetáculo só teria ganho - sobretudo junto aos estudantes desatentos e mal motivados - com aquela ruptura formal que o Imperial propunha. Claro! Uma personagem a sair viva da sua dimensão e vir comunicar-se intemporalmente com a platéia que, aliás, uivava ao vê-lo em cena!
O Imperial estava mais certo do que eu. E, por mais que se perdesse a linda canção que o Sidney havia composto para o poema, é possível que até o desafinado do cantor fosse um retrato mais adequado e verdadeiro de Bocage do que aquele que eu tinha imaginado.
De resto, convivi muito pouco com o Imperial. Nem me lembro em que circunstâncias. Mas a cada vez que nos encontrávamos ele se referia, divertido, ao fato de eu tê-lo levado a estrear-se em teatro, como ator e cantor.

Não sei se o que lhe conto será útil para o seu trabalho. Espero que sim. Se tiver alguma pergunta objetiva, mande-a e procurarei responder, se puder. De resto, desejo-lhe grande êxito.
Abraço.
GRISOLLI

O depoimento foi concedido em maio de 2003. Infelizmente, em dezembro de 2004, Grisolli faleceu, deixando muita saudade e belas realizações.